Os livros apócrifos do AT, embora não inspirados, contêm valiosas informações históricas sobre o período.
Há consenso entre os estudiosos da Bíblia ortodoxos, católicos e protestantes acerca dos 27 livros que constituem o cânon do NT, geralmente na mesma ordem, com os mesmos 260 capítulos. Em se tratando do AT, a situação é um pouco mais complicada.
Protestantes e judeus concordam quanto ao conteúdo do AT, mas ortodoxos e católicos aceitam vários livros judaicos de história e poesia que chamam de “deuterocanônicos” (grego: “segundo cânon”) e que os protestantes e judeus chamam de “apócrifos” (grego: “ocultos”).
Os 39 livros das versões protestantes atuais correspondem exatamente ao texto dos 24 livros da Bíblia hebraica. A diferença em número se deve a várias combinações nas edições judaicas. Os seis livros de Samuel, Reis e Crônicas, por exemplo, são considerados apenas três e os Profetas Menores, chamados de “O Livro dos Doze” são contados como apenas um livro.
Os judeus escreveram muitos outros livros religiosos (vários nem sequer em hebraico) que não consideram inspirados nem investidos de autoridade. Alguns, como 1 e 2 Macabeus, são textos valiosos, pois apresentam a história do período intertestamentário. Outros, como “Bel e o dragão” não tardam em revelar sua condição não canônica ao leitor com maior discernimento. Os textos menos valiosos dentre esses escritos judaicos são os pseudoepigráficos (gr., “escritos falsos”) e os mais valiosos, os apócrifos.
Alguns judeus e cristãos de outrora, especialmente os gnósticos do Egito, aceitavam um cânon mais amplo que abrangia alguns desses livros. Quando o estudioso São Jerônimo foi incumbido por Damásio, bispo de Roma, de traduzir os livros apócrifos, ele o fez sob protesto, pois conhecia bem o texto hebraico e sabia que esses livros não faziam parte do cânon judaico. Por essa razão, apesar de ter discernido o valor secundário (na melhor das hipóteses) desses textos, ainda assim, Jerônimo os traduziu para a Vulgata (versão em latim).
Hoje em dia, eles também aparecem em várias versões católicas da Bíblia e em algumas versões ecumênicas. A Igreja Católica só reconheceu oficialmente a canonicidade desses livros no período da Contra-Reforma (século XVI). Entre outros motivos, o Vaticano tomou essa decisão porque alguns de seus ensinamentos, como a oração pelos mortos, aparecem nos apócrifos. Na verdade, em sua maior parte, os apócrifos são textos judaicos e históricos sem relevância direta para a doutrina cristã. Apesar de não serem inspirados, alguns são interessantes quando lidos do ponto de vista cultural e histórico, por leitores que tenham entendimento sólido do cânon hebraico.
Fonte: Comentário Bíblico Popular – Velho Testamento | Willian MacDonald
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