As naturezas divina e humana de Jesus Cristo

Jesus homem

A figura de Cristo perturbou tanto os judeus quanto os gregos. Para enquadrá-lo nas suas categorias usuais, os primeiros acreditavam que Jesus não passava de um comum mortal inspirado por Deus; os outros, ao contrário, sustentavam que Ele tinha um corpo só aparente, mas, na realidade, continuava um ser inteiramente divino.

Os evangelhos descrevem-no como um homem real, que comia e bebia, que conheceu a alegria e a dor, a tentação e a morte, e, ao mesmo tempo, embora nunca tenha caído no pecado, perdoava os pecadores, como só Deus pode perdoar.

E por isso que a Igreja reconhece em Jesus de Nazaré o Filho de Deus, a Palavra do Eterno. Deus mesmo que desce ao íntimo da criação. Portanto, não é de se admirar que Cristo continue, ainda hoje, um mistério incompreensível para tantas pessoas. É até possível entender aqueles que procuravam ver nele um mito.

Na realidade, é difícil imaginar que, em Israel, um homem tivesse a ousadia de afirmar: “Eu e o Pai somos um”. Ao contrário, é decididamente mais fácil supor que os gregos e os sírios tenham tramado a lenda do filho de Deus recorrendo a vagas crenças orientais, pois os pagãos acreditavam que, às vezes, os deuses assumem aparências humanas e vinha visitar os mortais no mundo. Para chegar a esta verdade, o povo escolhido pagou um preço alto demais, lutou muito tempo contra o paganismo para poder inventar depois um profeta que dizia: “Eu estou no Pai e o Pai está em mim”.

Jesus Cristo, o homem mais importante que já viveu, transformou praticamente cada aspecto da vida humana. Tudo o que Ele tocou foi transformado. Ele disse, em Apocalipse 21.5: “Eis que faço novas todas as coisas” (RA). “Eis que” ([ιδού, em grego]): “prestem atenção”, “observem bem”, “examinem cuidadosamente”. Ele tocou no tempo quando nasceu neste mundo; a data do seu nascimento alterou completamente o nosso calendário.

A pergunta que fez a seus discípulos: “Quem o povo acha que eu sou?”, ainda ressoa aos nossos ouvidos (Lc 9.18). Também hoje, como há dois mil anos, muitos veem em Jesus de Nazaré só um profeta ou um mestre defensor de uma doutrina moral e perguntam por que milhões de pessoas reconhecem precisamente nele e não em Isaías ou em Moisés o “filho da mesma natureza do Pai”.

Em que consiste, de fato, a atração exclusiva exercida por Jesus? Apenas na sua doutrina moral? Mas Buda, Jeremias, Sócrates, Sêneca também propunham uma ética elevada.

Portanto, como o cristianismo poderia ultrapassar tanto assim estas doutrinas “concorrentes”? Além disso, o mais importante é que o evangelho não se assemelha a uma simples pregação moralizadora.

Com esta pergunta, penetramos em um campo que toca o que de mais misterioso e difícil existe na nova aliança. Aqui se escancara diante de nós de improviso o abismo que separa o Filho do homem dos filósofos, moralistas e fundadores de religiões de todas as épocas.

Ainda que a vida de Jesus não diferencia muito da vida de vários profetas, o que Ele declarou sobre si nos impede de colocá-lo no mesmo patamar dos outros mestres da humanidade. Todos se professaram simples mortais, homens como os outros que, em certo momento, conheceram a verdade e se sentiram chamados a anunciá-la; isto é, viam claramente a distância que os separava do ser supremo. E Jesus? Quando Filipe lhe pediu timidamente que lhes mostrasse o Pai, Jesus respondeu com palavras que nem Moisés, nem Confúcio, nem Platão jamais poderiam proferir: “Há quanto tempo estou convosco, e ainda não me conheces, Filipe? […] Quem me vê, viu o Pai” (Jo 14.9).

Com tranquila convicção,Jesus claramente proclamou-se Filho único de Deus; Ele não falava mais como profeta em nome do eterno, falava como o próprio Deus. Se Jesus não é um mito, nem um simples reformador religioso, quem é o Homem de Nazaré? Talvez, em nossa busca de uma resposta para esta pergunta crucial, devemos prestar atenção naqueles que percorriam com Ele os caminhos da Palestina, naqueles que sempre lhe estavam próximos; naqueles com os quais Ele compartilhava as experiências mais íntimas. Foi justamente neles que a pergunta: “Quem sou eu na vossa opinião” encontrou uma declaração de fé: “És o Cristo, o filho do Deus vivo”. Testemunho das Escrituras sobre a humanidade de Jesus

Houve um tempo em que a realidade (gnosticismo) e a integridade natural (docetismo, apolinarismo) da natureza humana de Cristo eram negadas, mas, hodiernamente, são poucos que questionam seriamente a verdadeira humanidade de Jesus Cristo.

É nas Escrituras que encontramos evidências de que Jesus era uma pessoa plenamente humana, sujeito a todas as limitações comuns à raça humana. Nasceu como todo ser humano nasce, todavia, sem pecado. Embora sua concepção tenha sido excepcional, todos os outros estágios de sua vida foram idênticos ao de qualquer ser humano normal, tanto físico como intelectual e emocional. Também, no sentido psicológico, era genuinamente humano, pois pensava, raciocinava, emocionava-se, como todo ser humano normal.

Era necessário que Cristo assumisse a natureza humana, não somente com todas as suas propriedades essenciais, mas também com todas as debilidades a que está sujeita, depois da queda, e, assim, devia descer às profundezas da degradação em que o homem tinha caído. Ele precisava participar da natureza daqueles a quem veio redimir; ter poder para subjugar todo mal e dignidade de valorizar sua obediência e sofrimento. Portanto, do princípio ao fim do sagrado volume, de Gênesis ao Apocalipse, um redentor Deus e homem é apresentado como objeto de suprema reverência, amor e confiança aos filhos dos homens que pereciam.

Jesus Cristo, o Messias prometido no Antigo Testamento

O Antigo Testamento, escrito durante um período de mais de mil anos, contém centenas de referências ao Messias que viria. Colocamos, lado a lado, algumas promessas a respeito do Messias no Antigo Testamento e seus cumprimentos no Novo.

  1. Ele seria um ser humano, nascido de uma mulher: Em Gênesis 3.15, falando ao tentador que seduziu Adão e Eva, induzindo-os ao pecado, disse Deus: “Porei inimizade entre você e a mulher, entre a sua descendência e o descendente dela; este lhe ferirá a cabeça, e você lhe ferirá o calcanhar”. No Novo Testamento, em Lucas 2.6,7 diz o seguinte a respeito de Maria, mãe de Jesus: “Chegou o tempo de nascer o bebê, e ela deu à luz seu prim ogênito”. Jesus nasceu conforme o processo humano normal.
  2. Ele seria descendente de Abraão: Em Gênesis 12.3, Deus prometeu a Abraão: “Por meio de sua vida, todos os povos da terra serão abençoados”.
  3. Ele viria da tribo de Judá: Em Gênesis 49.10, Jacó, no seu leito de morte, foi inspirado a proferir esta profecia acerca de Judá, um dos seus doze filhos: “O cetro não se apartará de Judá, nem o bastão de comando de seus descendentes, até que venha aquele a quem ele pertence, e a ele as nações obedecerão”. No Novo Testamento, na mesma árvore genealógica, apenas um dos filhos de Jacó é mencionado: Judá (M t 1.2).
  4. Ele viria da casa de Davi: Em 2Samuel 7.13, o profeta N atã diz a Davi que da família de Davi surgiria um grande rei, acerca de quem Deus prometera: “Este edificará uma casa ao meu nome, e eu estabelecerei para sempre o trono do seu reino”. No Novo Testamento, de novo, na mesma árvore genealógica é incluído, e com exatidão, o “rei Davi” (M t 1.6).
  5. Ele nasceria de uma virgem: Em Isaías 7.13,14, Deus aparece prometendo ao rei Acaz: “Ouçam agora, descendentes de Davi, o Senhor mesmo lhes dará um sinal: a virgem ficará grávida e dará à luz um filho, e o chamará Emanuel [nome que significa ‘Deus conosco’]”. No Novo Testamento, a virgem Maria recebeu a mensagem de um anjo, que disse que ela daria à luz um filho: “E lhe porá o nome de Jesus. Ele será grande, e será chamado Filho do Altíssimo. O Senhor Deus lhe dará o trono de seu pai, Davi, e ele reinará para sempre sobre o povo de Jacó; seu Reino jamais terá fim” (Lc 1.31-33). Quando José, o noivo de Maria, ficou sabendo da gravidez dela, e consciente de não ser ele mesmo o responsável, quis romper o noivado, mas Deus lhe falou em sonho, dizendo: “José, filho de Davi, não tema receber Maria como sua esposa, pois o que nela foi gerado procede do Espírito Santo. Ela dará à luz um filho, e você deverá dar-lhe o nome de Jesus, porque ele salvará o seu povo dos seus pecados” (Mt 1.21,22). Mateus explicou, nos versos 22 e 23, tratar-se do cumprimento da profecia em referência (Is 7.14).
  6. Ele nasceria em Belém: Em Miqueias 5.2, Deus prometeu: “Mas tu, Belém Efrata, embora pequena entre os clãs de Judá, de ti virá para mim aquele que será o governante sobre Israel. Suas origens estão no passado distante, desde os dias da eternidade”.

No Novo Testamento, Maria e José moravam na cidade de Nazaré, mas, nos dias em que Jesus estava para nascer, as autoridades romanas levantaram um censo, no qual cada família tinha que se alistar em sua cidade ancestral: “E todos iam para a sua cidade natal, a fim de alistar-se. Assim, José também foi da cidade de Nazaré da Galileia para a Judeia, Belém, cidade de Davi, porque pertencia à casa e à linhagem de Davi. Ele foi a fim de alistar-se com Maria, que lhe estava prometida em casamento e esperava um filho. Enquanto estavam lá, chegou o momento de o bebê nascer, e ela deu à luz seu primogênito” (Lc 2.3-7).

Existem muitíssimas outras profecias no Antigo Testamento a respeito do Messias, Jesus Cristo, que podem ser encontradas tanto no Manual Bíblico Halley quanto no livro de Josh McDowell, onde são citadas por extenso com breves comentários. É uma leitura fácil e proveitosa, e faz parte da doutrina de Cristo como divino Salvador.

A divindade de Cristo no Novo Testamento

Quando caminhamos na direção do Novo Testamento, as informações sobre a humanidade e divindade de Jesus Cristo se tornam evidentes em muitos textos. Sua vida, ensinos e obras são narrados nos quatro evangelhos: Mateus, Marcos, Lucas e João. Dos quatro evangelhos, Mateus, Marcos e Lucas são chamados de “sinóticos” (i.e. adotam a mesma vista histórica). Os três, juntos, oferecem uma vista “tridimensional”, “estereoscópica” de Jesus Cristo, das suas ações e doutrinas.

Marcos é o mais breve e direto e tanto Mateus quanto Lucas contêm (nunca em linguagem exatamente idêntica, nem na mesma ordem) a maior parte dessa matéria, mas cada um destes contribui com muitos relatos e ensinos para completar o quadro.

No texto original, escrito em grego, se percebe que os três sinóticos usam linguagem e vocabulário diferentes em textos paralelos, mas as línguas modernas não refletem essas diferenças. De qualquer forma, João se diferencia por conter muitos discursos de Jesus que revelam a sua pessoa. 

Jesus, com os títulos “Filho de Deus” e “Filho do Homem” estava afirmando a sua divindade, e muitos dos seus atributos são exclusivamente privativos do próprio Deus. Os próprios judeus que o ouviam entendiam isso muito bem: “Por isso, os judeus ainda mais, procuravam matá-lo, porque não somente violava o sábado, mas também dizia que Deus era seu próprio Pai, fazendo-se igual a Deus” (Jo 5.18).

Quando Jesus disse: “Eu o Pai somos um”, a reação dos judeus foi: “Não é por boa obra que te apedrejamos, e, sim, por causa da blasfêmia, pois sendo tu homem , te faz Deus a si mesmo” (Jo 10.30-33).

Quando Jesus curou um paralítico, dizendo: “Filho, os teus pecados estão perdoados”, os escribas judeus disseram: “Está blasfemando! Quem pode perdoar pecados, a não ser somente Deus?”. E Jesus confirmou ter autoridade para perdoar pecados (Mc 2.7-11).

Quando Jesus foi interrogado diante do Sinédrio judaico, o sumo sacerdote lhe perguntou: “Você é o Cristo, o Filho do Deus bendito?”. Jesus respondeu: “Sou, e vereis o Filho do homem assentado à direita do Poderoso, vindo com as nuvens do céu” (Mc 14.61-64).

Tão íntima era sua relação com Deus, que Jesus declarou que conhecer a Ele era o mesmo que conhecer a Deus (Jo 8.19; 14.9-11); vê-lo era o mesmo que ver a Deus (Jo 12.45; 14.9); crer nele era o mesmo que crer em Deus (Jo 12.44; 14.1); recebê-lo era, também, receber a Deus (Mcs 9.37); odiá-lo era odiar a Deus (Jo 15.23); e honrá-lo era o mesmo que honrar o próprio Deus (Jo 5.23).

Cristo revelou um poder sobre as forças da natureza que somente Deus, autor destas forças, poderia possuir. Acalmou uma furiosa tempestade de vento e vagalhões no mar da Galileia. E, ao agir dessa forma, arrancou dos que estavam no barco a seguinte pergunta, cheia de reverência: “Quem é este que até o vento e o mar lhe obedecem?” (Mc 4.41).

Transformou a água em vinho. Alimentou cinco mil pessoas com cinco pães e dois peixes. Devolveu a uma viúva aflita seu único filho, levantando-o dos mortos e trouxe à vida a filha morta de um pai esmagado pela dor. A um antigo amigo morto e sepultado, Jesus disse: “Lázaro, vem para fora!”, e, de forma dramática, o levantou dentre os mortos. Seus inimigos não podiam negar esse milagre, e procuravam matá-lo, para evitar que todos crescessem em Jesus” (Jo 11.48). Jesus revelou possuir o poder do Criador sobre as enfermidades e as doenças. Fez os coxos andarem, os mudos fala­rem e os cegos verem, inclusive um caso de cegueira congênita em João 9.

O homem curado, submetido a interrogatório sobre a cura que recebera de Jesus, reafirmava: “Eu era cego, e agora vejo”, e confirmou: “Ninguém jamais ouviu que os olhos de um cego de nascença tivessem sido abertos. Se esse homem não fosse de Deus, não poderia fazer coisa alguma” (v. 32,33).

A suprema credencial de Jesus para autenticar a sua divindade foi a sua ressurreição dentre os mortos. Conforme profetizara aos seus discípulos, foi morto e, em três dias, ressuscitou, e apareceu de novo diante deles. Os quatro evangelhos narram com pormenores a história do sofrimento e morte de Jesus a partir de Mateus 26.47, Marcos 14.43, Lucas 22.47-53 e João 18.2, indo até o fim de cada um deles.

É só reconhecendo a divindade de Cristo que o Novo Testamento e a própria fé cristã fazem sentido. Todos os grupos e seitas que alegam ser cristãos, mas que negam a divindade de Cristo, são classificados como hereges.

 

Fonte: Enciclopédia Semeie Volume I

Copyright © 2013 por Editora Semeie Ltda

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