A Palavra anticristo é de origem grega, que quer dizer “contra Cristo” (1 Jo 2:18,22; 4:3; 2 Jo 7). A ideia do anticristo se relaciona com o Homem da Iniquidade e com as Bestas, do Apocalipse. O apóstolo Paulo também fala do anticrsito, que será derrotado por Deus (2 Ts 2:7-12). E pede que os tessalonicenses fiquem firmes na fé, não dando ouvidos a ensinamentos falsos.
O termo grego antichristos (αντιχριστος) é usado na Bíblia somente em João 2:18-22; 4:3; e 2 João 7. Como usado ali, indica provavelmente um oponente de Cristo, mais do que propriamente (como o sufixo anti poderia também significar) alguém que reivindica falsamente ser o Cristo.
Muitos intérpretes posteriores, no entanto, consideraram essa última possibilidade, vendo o anticristo como um falso Cristo (Mc 13:22), além de oponente deste. João 2:18 indica que o conceito de anticristo, senão o termo, já era bem conhecido. A escatologia judaica desenvolveu a expectativa de uma personificação humana derradeira do mal, um governante político que se apresentaria como divino e lideraria as nações pagãs em um ataque final ao povo de Deus.
Essa figura foi moldada especialmente sobre as descrições feitas por Daniel de Antíoco Epifânio, que estabeleceu a “abominação da desolação” (ou “do assolamento”) no templo (Dn 8:9-12, 23-25; 11:21-45; cf. Mc 13:14). A expectativa judaica, às vezes, incluía também a ideia de um falso profeta nos últimos dias, que realizaria milagres e enganaria as nações (cf. Mc 13:22).
Os escritores do NT partilharam da expectativa judaica de um crescimento do mal no período final da história humana, levando à sua derrota final e ao estabelecimento do reino universal de Deus. Tomaram ambos os tipos da figura do anticristo, do rei que reivindica para si adoração divina e do falso profeta enganador, interpretando-os de modos diversos.
- Em 2Ts 2:3-12, o “homem do pecado” é uma figura ainda futura, que se estabelecerá no lugar de Deus e seduzirá o mundo, levando-o a crer em suas mentiras.
- Em Apocalipse 13, as duas bestas representam, respectivamente, o anticristo político e o falso profeta (cf. Ap 16:13), sendo usadas para destacar o caráter antidivino e anticristão do Império Romano da época (cf. Ap 17) e seu culto e adoração a César.
- Nas epístolas de João, os hereges que negam a realidade da encarnação são “muitos anticristos” (1 Jo 2:18), falsos profetas, voltados para o engano.
- Outras passagens do NT advertem sobre o surgimento de falsos mestres na igreja nos últimos dias (At 20.30; 1 Tm 4:1-3; 2 Pe 2:1; Jd 18).
No decurso da história cristã, as figuras do anticristo da profecia bíblica têm sido interpretadas, principalmente, de três modos diferentes. Nos períodos patrístico e medieval, era comum a ideia de um anticristo individual futuro, tendo sido desenvolvida uma narrativa detalhada de sua carreira.
Essa ideia foi rejeitada pelos reformadores protestantes, vindo a se tornar popular no protestantismo somente no século XIX, quando foi revivida um a interpretação futurista do Apocalipse. Indivíduos como Napoleão III e Mussolini têm sido, por vezes, identificados como o anticristo, algumas vezes por meio de interpretações do número da besta (Ap 13:18).
O segundo modo foi a ideia que os protestantes do século XVI desenvolveram, de que as principais narrativas bíblicas do anticristo se referirem a uma entidade histórica específica, e não a um homem individual. Identificaram o anticristo, assim, com um a sucessão institucional de homens durante muitos séculos: o papado católico. Essa visão permaneceu como a visão protestante predominante a respeito do anticristo até o século XIX.
Outro modo em que o anticristo tem sido entendido, é mais um princípio de oposição a Cristo que continuamente aparece na história da humanidade, sob a forma de indivíduos ou movimentos que se colocam contra Deus e que perseguem ou enganam seu povo. Essa ideia é compatível, naturalmente, com a expectativa da personificação final do princípio do anticristo no futuro.
Em linhas gerais o anticristo é, provavelmente, um opositor de Cristo não tanto alguém que alega falsamente ser o Cristo, mencionado apenas nas cartas de João, embora a ideia não seja tão circunscrita. João não nega que tal ser maligno virá no final desta era, mas também insiste que já existe uma atitude característica do anticristo (1 Jo 2:18).
Ele é definido com o “que nega o Pai e o Filho” (1 Jo 2:22; 2 Jo 7), minando assim os fundamentos da fé cristã. Paulo emprega o termo “ o homem da iniquidade” em 2 Ts 2:3. em referência ao mesmo ser; ele se opõe à religião, alega ser Deus, deve seu poder a Satanás, mas será derrotado por Jesus. Um significado semelhante pode ser dado às bestas de Ap 11:7 e 13:11.
Seja como for, a identificação exata desse personagem, ainda trará calouradas discussões na teologia.
Por: Ricardo Moreira Braz do Nascimento
Referências Bibliográficas
Dicionário Bíblico Vida Nova. Derek Williams; São Paulo: Vida Nova, 2000. Dicionário Bíblico SBB - Sociedade Bíblica do Brasil, São Paulo 2.000 Novo dicionário de teologia / Sinclair B. Ferguson, David F. Wright. São Paulo: Hagnos, 2009. R. Bauckham, Tudor Apocalypse (Appleford, 1978); W. Bousset, The Antichrist Legend (London, 1896); D. Brady, The Contribution of British Writers between 1560 and 1830 to the Interpretation of Revelation 13.16-18 (Tübingen, 1983); R. K. Emmerson, Antichrist in the Middle Ages (Manchester, 1981); D. Ford, The Abomination of Desolation in Biblical Eschatology (Lanham, MD, 1979); C. Hill, Antichrist in Seventeenth-Century England (London, 1971).
Deixe um comentário