Em uma de suas viagens missionárias Paulo esteve em Atenas e lá encontrou um “altar ao deus desconhecido” (At 17.23).
Em Atenas havia mesmo um altar dedicado ao deus desconhecido, e temos registros não bíblicos que confirmam a existência de “altares anônimos” naquela cidade. Diógenes Laércio (180-240 d.C) disse que vários foram erguidos certa vez para evitar uma praga.
Sabemos que os gregos (e não apenas) tinham o costume de dedicar altares a deuses desconhecidos, com medo de que, se esquecessem de cultuar esses deuses, seriam castigados por eles. Os gregos tinham medo de ofender algum deus por não lhe dar atenção, de modo que acreditavam poder encobrir quaisquer omissões com a inscrição “deus desconhecido”.
Em Atos 17:19 a bíblia nos fala que Paulo é levado para uma reunião no Areópago (“rocha de Ares”, outro nome para Atena), no qual usou o altar grego dedicado a um deus desconhecido como para pregar o evangelho aos cidadãos atenienses (vs. 22-31).
No tempo de Paulo, Atenas não era tão grande quanto tinha sido no passado, mas ainda tinha a fama de ser o berço da civilização grega. Era uma cidade independente, aliada à cidade de Roma. No seu discurso a esses ouvintes pagãos, Paulo não faz nenhuma referência às Escrituras Sagradas ou à história dos israelitas, pois isso não teria nenhum sentido para eles.
A inscrição no altar, em grego, é: αγνωστικιστής θεός (agnostos theos), inscrição que é objeto de muitas discussões. Alguns duvidaram que a existência de um altar com tal inscrição; outros pensaram que Paulo ou Lucas se referiram em singular a uma inscrição que geralmente se encontrava no plural: “aos deuses não conhecidos”.
Uma solução razoável pode estar em um estudo de antigas referências a altares nos que havia inscrições semelhantes, e aqui estão quadro delas:
- Pausanias (C. 150 d. C.) diz que no caminho que vai do porto chamado Valerón até Atenas, havia altares a deuses que recebiam o nome de “não conhecidos”;
- O mesmo escritor registra que na cidade de Olímpia havia também um altar a deuses “não conhecidos”;
- Diógenes Lucrécio, escritor de princípios do século III a.C., conta que Epiménides de Giz foi convidado para socorrer a Atenas açoitada por uma grande pestilência. O cretense levou algumas ovelhas negras e brancas ao Areópago, e as soltou para que vagassem pela cidade. Em cada lugar onde se deitava uma ovelha, oferecia-se um sacrifício e se erigia um altar. Os monumentos comemorativos desta expiação não levavam nome.
- Filostrato (200 d. C.) na obra ‘Vida do Apolônio de Tiana’ faz uma menção especial de Atenas, onde diz que havia altares dedicados até a deidades não conhecidas. Tais referências são suficientes para estabelecer o fato de que os gregos erigiam altares a deuses cujos nomes não conheciam.
Fora do NT não se conhece nenhum registro de um altar que levasse a inscrição em singular “a um deus não conhecido”, mas as evidências citadas demonstram a possibilidade de que nos dias de Paulo existisse um altar semelhante.
A presença de um altar assim está de acordo com o que se sabe a respeito da filosofia religiosa ateniense. Os habitantes da cidade desejavam agradar a todas as deidades, e levantavam altares a um deus (ou deuses) não conhecidos a fim de não desagradar a nenhum. Uma equivalência latina das inscrições gregas encontrou-se em um altar descoberto na Óstia, o porto de Roma, e que agora está no Museu Vaticano.
Este altar apresenta a um grupo que oferece um sacrifício mitraísta, e tem a inscrição: “O símbolo do Deus que não se pode descobrir”. Também se encontrou um altar no Pérgamo com uma inscrição em grego muito deteriorada, aparentemente dedicada a deuses não conhecidos.
Seja como for a maior relevância neste assunto não é o altar em si, e o que ele representava aos atenienses ou mesmo aos gregos de forma geral. Aqui precisamos refletir na grande oportunidade que Paulo identificou para chamar a atenção às suas palavras. Paulo sabiamente reconheceu que havia no coração de Atenas a prova de um profundo e insatisfeito desejo por um conhecimento mais íntimo e claro sobre um poder invisível que os homens cultuavam de forma imperfeita e obscura.
Logo Paulo assegurou que havia realmente um que eles não conheciam, e este ia lhes ser apresentado. O apóstolo identificou o Deus desconhecido para aquelas pessoas, o qual, sem conhecerem, procuravam honrar. Esta foi uma abordagem inteligente, e estava definitivamente de acordo com a tradução “religiosos”, ao invés de “supersticiosos”, como consta na declaração inicial de Paulo.
Uma vez que esse Deus é o criador de todas as coisas e senhor dos céus e terra, Ele não podia habitar em qualquer estrutura construída por homens. Ele também não tinha nenhuma necessidade que o culto humano ou a adoração pudesse suprir, pois Ele mesmo é a fonte de toda a vida.
Sendo Deus o Criador, todos os homens são oriundos da mesma fonte, e todos os homens dependem dEle. Ele lhes forneceu a terra por habitação e as estações para lhes fornecer o sustento. A bondade de Deus manifesta na criação do mundo, que deveria levar os homens a buscarem Deus.
Senhor é um Deus transcendente que não pode ser identificado com Sua criação e é também o Criador e o Mantenedor de quem todos os homens dependem para a sua vida física.
Por: Ricardo Moreira Braz do Nascimento
Referências Bibliográficas
NTLH, Bíblia de Estudos. Sociedade Bíblica do Brasil, São Paulo 2005 WILLIAMS, Derek. Dicionário Bíblico Vida Nova. Editora Vida Nova, São Paulo 2000 KELLNER, Mark A. Comentário Bíblico Internacional. Editora CPB, 2014NVI, Bíblia de Estudos Arqueológica. Editora Vida, São Paulo 2013
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