O purgatório
Em última análise, na teologia católica romana, o purgatório é um estado médio entre céu e inferno.
Como definiram os concílios de Florença e Trento, o purgatório não é simplesmente um lugar de purificação (uma espécie de estado intermediário entre a morte e a ressurreição, sobre o qual mesmo alguns teólogos protestantes têm conjecturado), mas, sim, um lugar de castigo, embora de pena temporária, não eterna.
Essa crença não se baseia nas Escrituras Canônicas, sua base teológica é difícil de encontrar nos primeiros séculos da Igreja cristã; nunca foi aceita pela Igreja oriental (Igreja Ortodoxa) e na Reforma Protestante foi rejeitada pelas igrejas dissidentes do catolicismo romano.
A ideia de purgatório parece ter raízes na mentalidade legalista, que supõe que a salvação seja pelas obras e que Deus exerça seu juízo somente pesando nossas boas obras contra as más, tornando-se necessária assim alguma providência especial para aqueles cuja proporção entre umas e outras possa ser, de certo modo, equilibrada. Os rabinos judeus frequentemente pensavam nesses termos.
A doutrina do purgatório, contudo, é mais sutil. Reconhece que a salvação é pela graça, mas sustenta que uma penalidade temporária tem de ser cumprida pelo pecador, mesmo quando o castigo eterno por seus pecados já tenha sido remido pelo perdão.
Se o pecador cumpriu essa penalidade na presente vida, mediante atos de penitência, o moribundo irá diretamente, para o céu; se for impenitente, irá diretamente para o inferno; mas se cumpriu parcialmente seu castigo, terá de pagar o restante no purgatório.
As almas no purgatório podem ser ajudadas, sendo sua permanência ali abreviada, conforme se crê, por atos dos vivos. Orações e esmolas podem e devem ser feitas em seu favor; o sacrifício propiciatório da missa pode ser oferecido por eles (a missa de réquiem); e para eles podem ser obtidas indulgências.
Na prática católica romana o antigo costume de rezar pelos fiéis que morriam acabou sendo totalmente substituído por orações pelas almas no purgatório. As indulgências se baseiam na crença de que a Igreja tem o direito de propiciar benefícios do “tesouro de méritos”, acumulado por Cristo e os santos. A venda de indulgências por agentes autorizados foi uma das causas que precipitaram a eclosão da Reforma.
O Limbo
A palavra “limbo” vem do latim “limbus” e significa borda, margem, extremidade. Na teologia católica romana significa uma região na fronteira do inferno que se acredita ser local espiritual daqueles destinados a não experimentar, após a morte, nem a angústia do inferno nem as alegrias do céu, tampouco as injunções do purgatório.
Sob essa visão, o limbo é a morada de duas categorias de falecidos:
- Aqueles que na terra não ganharam o uso da razão e não foram batizados, como bebês, crianças pequenas (para estas existe o “limbo dos infantes”), pessoas incapazes ou deficientes mentalmente. Embora inocentes de culpa pessoal, seu pecado original, no entanto, não foi removido pelo batismo. De acordo com o papa Inocêncio III (1.160-1.216 d.C), a punição do pecado original é a privação da visão beatífica de Deus. Alguns escritores sustentam que, no caso de bebês e criancinhas, estes têm de algum modo consciência de sua exclusão permanente da bem-aventurança eterna; já outros creem que se mantêm inconscientes dessa perda ou em um estado de felicidade natural, tal como aquele que Adão desfrutou antes da queda.
- Os santos do AT, antes de sua libertação por Cristo em sua “descida ao inferno” e da ascensão deles ao céu (para estes existe o Limbo dos Pais”), algumas vezes referidos como sendo Abrahae, “seio de Abraão” , com base em Lc 16.22).
Em 2007 a Comissão Teológica Internacional da Igreja Católica Apostólica Romana, sob pontificado de Bento XVI, publicou um documento decretando o fim do limbo. Segundo publicado pela Igreja o limbo reflete uma “visão excessivamente restritiva da salvação”.
Por: Ricardo Moreira Braz do Nascimento
Bibliografia
J. Le Goff, The Birth o f Purgatory - London, 1984;
C.H.H. Wright, The Intermediate State and Prayers for the Dead - London, 1900.
P. Gumpel, Limbo, SM III, p. 139.
A Esperança da Salvação para as Crianças que morrem sem Batismo, Comissão Teológica Internacional. https://www.vatican.va/roman_curia/congregations/cfaith/cti_documents/rc_con_cfaith_doc_20070419_un-baptised-infants_po.html
Ferguson, Sinclair B. Novo Dicionário de Teologia - São Paulo: Hagnos, 2009.
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