Pregações Motivacionais e de Autoajuda

Eu tenho experiencia de vida o bastante para me preocupar com o desdobramento de alguns comportamentos na igreja, infelizmente algumas ações aparentemente inofensivas podem se tornar um grave problema em pouco tempo. Um bom exemplo são as coreografias, que surgiram com toda força no final dos anos 90 e se desdobraram no início dos anos 2.000.

Eram simples gestos com as mãos, que envolviam a igreja durante o momento de louvor. Então todos cantavam e faziam pequenos gestos em coerência com a música,  então o momento dos Corinho ficarem bem mais animados.  As inofensivas coreografias se tornaram, em muitas igrejas, apresentações particulares de dança durante o culto. Não é difícil encontrar gravações em que ninguém está sequer prestando atenção na letra da música, enquanto admiram a audaciosa apresentação de dança. Se no culto as atenções estão voltadas para uma pessoa, para quem é aquela dança? Para Deus?

Muitos exemplos podem ser levantados aqui, mas acredito que apenas este seja o suficiente para demonstrar que o conservadorismo na liturgia do culto tem seu valor, portanto não podemos simplesmente adotar todo e qualquer tipo de “avanço” no culto sem cogitar em como será o desdobramento disto ao longo do tempo.

Quando se fala em pregação da palavra de Deus, a própria expressão já explica tudo. Tudo o que? Pregar! Pregar o que? A palavra de Deus. Se precisamos de um modelo de pregação, onde está este modelo senão nas Escrituras? Sim, na bíblia está o modelo de igreja, de culto e de pregação da palavra que hoje precisamos. Quando olhamos para as escrituras, tanto no antigo quanto no novo testamento identificamos uma pregação centrada no arrependimento, em denunciar o pecador, convidar o pecador a reconhecer seu pecado e a consequente reconciliação com o Senhor.

Vejamos alguns textos no Antigo Testamento:

  • Ezequiel 18:31 “Livrem-se de todos os males que vocês cometeram e busquem um coração novo e um espírito novo. Por que deveriam morrer, ó nação de Israel?

  • 2 Crônicas 7:14 “se o meu povo, que se chama pelo meu nome, se humilhar e orar, buscar a minha face e se afastar dos seus maus caminhos, dos céus o ouvirei, perdoarei o seu pecado e curarei a sua terra.

  • Isaías 30:15 “No arrependimento e no descanso está a salvação de vocês, na quietude e na confiança está o seu vigor, mas vocês não quiseram.”

Agora alguns textos no Novo Testamento:

  • 1 João 1:9 “Se confessarmos os nossos pecados, ele é fiel e justo para nos perdoar os pecados e nos purificar de toda injustiça.”

  • Atos 3:19 “Arrependei-vos, pois, e convertei-vos, para que sejam apagados os vossos pecados, e venham, assim, os tempos do refrigério pela presença do Senhor.

  • Mateus 4:17 “Arrependei-vos, porque é chegado o Reino dos céus.

Não é preciso ser um erudito nas escrituras para perceber que os profetas tanto no Antigo, quanto no Novo Testamento nunca se preocuparam em acalmar ou consolar o povo com palavas bonitas. Pelo contrário temos o apóstolo Paulo afirmando que fez exatamente o contrário. “Minha mensagem e minha pregação não consistiram de palavras persuasivas de sabedoria, mas consistiram de demonstração do poder do Espírito.” (1 Coríntios 2:4)

Exitem muitos pregadores e consequentemente muitos estilos de pregação, não quero falar sobre os estilos de pregação, mas sobre o conteúdo delas. Quando falo em pregar a palavra de Deus, estou falando em ser a voz de Deus para as pessoas e falar aquilo que Deus falaria. Então me pergunto se Deus quer bons palestrantes, que são capazes de encantar ouvintes, de divertir plateias ou se ele está interessado em pregadores que repliquem as palavras de Jesus ao dizer “O Reino de Deus está próximo. Arrependam-se e creiam nas boas novas.” (Marcos 1:15).

Não posso ignorar que precisamos de estratégias para alcançar pessoas, o próprio apostolo Paulo fez isto e nos diz que: “Para com os fracos tornei-me fraco, para ganhar os fracos. Tornei-me tudo para com todos, para de alguma forma salvar alguns.” (1 Coríntios 9:22). Portanto preparar bem o sermão, e medir bem as palavras são ações necessárias para o bom desenvolvimento da obra, no entanto é preciso pensar nas motivações para tal estratégia. Infelizmente a qualidade das nossas pregações estão sendo medidas pelos aplausos, sorrisos, arrepios, visualizações, curtidas, compartilhamento, etc. Mas nem sempre são avaliadas pela relevância bíblica da pregação.

Percebo pregadores que fazem do seu sermão um show a parte, seja ele de humor, suspense, auto motivação, etc. Diante desta situação eu penso nas motivações para isto, pois o argumento é sempre de ganhar almas, salvar pessoas. Porem na prática não vejo conversões neste tipo de pregação, mas apenas pessoas já convertidas fazendo destas pregações um entretenimento (e muitas vezes pagando para ouvir). Ou pior quando não convertidos também fazem disto um simples entretenimento e também não se convertem, pelo contrário pensam que ouvir estas pregações já é o suficiente para agradar a Deus.

Não posso ignorar as palavras de Paulo ao dizer que “O importante é que de qualquer forma, seja por motivos falsos ou verdadeiros, Cristo está sendo pregado, e por isso me alegro. De fato, continuarei a alegrar-me,” (Filipenses 1:18). Mas devemos ter cuidado ao interpretar e aplicar este versículo.

Paulo não está dizendo que a pregação pode ser praticada de qualquer forma, ele está dizendo que é melhor fazer pelos motivos errados do que não fazer. Quando alguém me questiona sobre haver muitas denominações espalhadas pelas cidades e muitas delas não são igrejas sadias espiritualmente, eu sempre digo que prefiro igrejas impuras fazendo cultos impuros do que bares (ou botecos). A minha resposta não está dizendo que é certo ter uma igreja impura, mas que mesmo a pior igreja é melhor para o indivíduo do que um bar.

E por isto eu luto pela pureza espiritual da igreja a qual sou pastor, conservo a minha vida espiritual e a minha pregação do modo como entendo que está de acordo com as escrituras. Portanto agradando a Deus. Sei também que é muito difícil julgar o compromisso e motivações de outras pessoas, mas quero finalizar sugerindo alguns critérios e que talvez te ajude a avaliar se os diversos tipos de pregação e pregadores são realmente úteis para o crescimento da igreja enquanto corpo de Cristo.

Responda sinceramente as perguntas abaixo e então julgue você mesmo:

1. Do seu pregador engraçado, que conta piada e prega para casais.

  • Quantos testemunhos você já ouviu em que casamentos foram restaurados através da pregação deste pregador?
  • Quantos testemunhos de maridos que desistiram do divórcio e voltaram para suas esposas após se divertir com as piadas?
  • Quantas esposas passaram a honrar os seus maridos após as gargalhadas na pregação?

2. Sobre o pregador de jovens que fala gírias e palavrões.

  • Quantos adolescentes e jovens se tornaram mais fieis a igreja após acompanhar este pregador?

  • Quantos adolescentes abandonaram bem cedo a rebeldia da adolescência por influência deste pregador?

  • Quantos jovens estão buscando a santificação e abandonando a aparência do mundo por influência deste pregador?

  • Quantos pastores dirigentes estão sugerindo que outros jovens assistam as pregações com gírias e palavrões devido ao grande crescimento espiritual e emocional dos jovens de suas igreja?

3. Sobre o pregador de auto ajuda

  • Quantas conversões se deram ao ouvir uma pregação de auto ajuda?

  • A igreja deste pregador motivacional contem mais pessoas que se converteram lá ou a igreja é formada de pessoas vindas de outras denominações?

  • A igreja deste pregador de auto ajuda possui estrutura de ensino bíblico ou somente cultos com temas de campanhas ou cultos com nomes de impacto.

  • O pregador de auto ajuda fala sobre pecado e a necessidade urgente de arrependimento e mudança de vida?

  • O pregador motivacional faz apelo evangelístico convidando pessoas a aceita a Cristo?

Ao refletir seriamente sobre estas respostas, acredito que agora você poderá pensar melhor sobre o que é a pregação da palavra de Deus e, o que é um bom entretenimento gospel.

Por: Ricardo Moreira Braz do Nascimento

Corinho1:  Pequenas e então novas músicas que seguiam os hinos congregacionais (harpa cristã, cantor cristão, hinário, etc).

3 comentários em “Pregações Motivacionais e de Autoajuda

Adicione o seu

    1. Ola Kelly,

      Muito obrigado pela sua participação no nosso pequeno (mas sincero) trabalho. Precisamo vigiar contra falsos ensinos dentro e fora da igreja.
      Infelizmente ainda não tenho artigo sobre festa junina, mas no canal do Youtube tem um video comentando sobre festa junina em igreja evangélica.

      Curtido por 1 pessoa

Deixe um comentário

Preencha os seus dados abaixo ou clique em um ícone para log in:

Logo do WordPress.com

Você está comentando utilizando sua conta WordPress.com. Sair /  Alterar )

Foto do Facebook

Você está comentando utilizando sua conta Facebook. Sair /  Alterar )

Conectando a %s

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Saiba como seus dados em comentários são processados.

Site criado com WordPress.com.

Acima ↑

%d blogueiros gostam disto: