Jó 41: Que tristeza salta de alegria?

A história de Jó é conhecida por todos, mas algumas parte no livro nem tanto.

No capítulo 41 fala de um animal muito poderoso, entre os atributos mais marcantes estão suas narinas que soltam faíscas, e que espada ou lança é ineficaz contra ele; e se não fosse o suficiente diz que diante dele a tristeza salta de prazer, este é o versículo 28 do capítulo 41. Na tradução JFA (João Ferreira de Almeida) diz:

No seu pescoço pousa a força; perante ele, até a tristeza salta de prazer.” (Jó 41:22)

Muitos afirmam que uma tradução diz: “…a tristeza salta de alegria”; procurei em várias traduções e não encontrei, procurei na JFA, ACF, ARA, ARC, NVI, NVT, NTLH, NAA, ACF, BJ, Almeida Sec 21, Imprensa Bíblia, Edição Contemporânea e Bíblia Viva). Portanto vamos analisar com base na JFA (João Ferreira de Almeida) que diz que: “a tristeza salta de prazer”, e neste caso o uso da palavra “alegria” ou “prazer” não muda o sentido do texto.

Em casos de difícil interpretação meu primeiro conselho é que se faça a leitura do mesmo texto em traduções diferentes, afinal existem muitos métodos de tradução e cada tradutor (ou comissão de tradução) precisa escolher apenas uma, entre muitas palavras possíveis para aquela tradução. Muitas vezes apenas ler o texto em uma tradução diferente tira a nossa dúvida. Para isto eu trouxe outras três traduções:

  • NVI: “Tanta força reside em seu pescoço que o terror vai adiante dele.
  • NAA: “No seu pescoço reside a força; e diante dele salta o desespero.”
  • NTLH: “A sua força está no pescoço, e a cara dele mete medo em todo mundo.”

Neste caso a leitura de traduções diferentes não ajudou a entender a questão da tristeza se transformar em prazer (ou em alegria), pelo contrário temos palavras antônimas como “terror”, “medo” e “desespero”. Mas e agora? Será que alguma tradução está incorreta e por isto acontece esta contradição em termos?

O primeiro conselho é buscar a leitura de traduções diferentes, e já fizemos isto; como não foi suficiente, vamos para o passo seguinte. O segundo passo é buscar o contexto, afinal de contas nenhum versículo está isolado; cada versículo faz parte de uma narrativa e está inserido em um contexto. O autor original não escreveu apenas aquele versículo isoladamente, portanto entender o contexto é essencial para compreender um texto (seja de qual natureza for).

Analisando os capítulos 40 e 41 de Jó, especificamente os cap 40:6 até 41:34, veremos que o assunto é a força de Deus e que ela não pode ser comparada a nada; nem a algo (ou um ser) extremamente poderoso na terra. Será que a força de Deus pode ser comparada?

Os capítulos 40 e 41 registram a segunda e última resposta de Deus a Jó. Veja a sequência do raciocínio:

    1. Deus reafirma que é justo e poderoso (40.7-9).
    2. Só Deus, tem condições de dominar os perversos (40.10-14).
    3. Ele domina os monstros mais ferozes (Beemote: 40.15-24).
    4. E também domina o Leviatã (41.1-34).

No capítulo 41, os versículos 12 a 34 descrevem o leviatã (ou crocodilo em algumas traduções). Os versículos 18 a 21 descrevem a sua fumegante respiração, e o efeito do vapor iluminado pela luz do sol. Em resumo tudo treme diate dele, onde quer vai causa terror e todos fogem espantados. De modo que diante dele até “a tristeza salta de prazer” (41:22) ou, em outra tradução diz: “o terror vai adiante dele” (NVI)”.

Esta narrativa é uma referência ao terror que leviatã (ou crocodilo), que de tão poderoso perturba os outros animais que, só de vê-lo, se contorcem apavorados. As descrições de animais selvagens (e aqui, por que não, um possível dinossauro) apresentadas nesses capítulos refletem a glória, o poder e a majestade de Deus. Por meio dessas exposições, o Senhor fornece uma pequena ilustração de seu esplendor e força.

Não é de admirar, portanto, que Deus tenha começado descrevendo criaturas inofensivas como corças e corvos, e progressivamente aumente o tamanho e a grandeza dos animais encerrando com a descrição do hipopótamo (beemote, criatura terrestre) e do crocodilo (leviatã, criatura do mar), sendo este o rei de todos os animais e dono de uma reputação incrível.

A questão da tristeza saltar de alegria (ou de prazer) não deve ser entendida literalmente, veja que estamos diante da narrativa de um animal extremamente poderoso, capaz de aterrorizar qualquer outro. Este terror causa até atitudes inesperadas como a tristeza se tornar alegria; não podemos entender que o triste ficou alegre, mas sim que diante deste animal tão poderoso, o terror provocado é tão grande que até situações inusitadas como a tristeza se fazer em prazer pode acontecer.

O ponto chave neste contexto falando da narrativa do Beemote e o Leviatã é que Deus controla todas as forças, cósmicas ou terrestres, até mesmo este animal tão surpreendentemente poderoso. Portanto Deus não teme poder algum nesta terra, nem foi apanhado de surpresa pelo problema do mal na humanidade.

Por: Ricardo Moreira Braz do Nascimento

Este breve estudo foi uma sugestão de: Thaís Marinho Farias (de Santos, São Paulo)

Referências Bibliográficas

WILLIAMS, Derek. Dicionário Bíblico Vida Nova. Ed. Vida Nova, São Paulo 2000

CHAMPLIN, Russell Norman. O Antigo Testamento Interpretado: versículo por versículo: São Paulo: Hagnos, 2002.

_____, Comentário Bíblico Universal, vol. 1 - CPB. Casa Publicadora Brasileira, 2011

_____. Biblia de Estudos NTLH, Sociedade Bíblica do Brasil 2010

PFEIFFER, Charles F. Comentário Bíblico Moody. ‎ Editora Batista Regular; São Paulo 2017.

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