A Teologia do Sábado Bíblico

Lendo os Dez Mandamentos encontramos a ordem de guardar o sábado, mas os cristãos em sua maioria não guardam o sábado. Enquanto uns dizem que o sábado é lei, outros cristãos ainda guardam o sábado. Este breve artigo trata sobre o sábado.

As Escrituras contêm numerosas referências ao sábado. Na maioria dos casos, é uma re­ferência a determinado dia da se­mana, o sétimo dia (Êx 20.10; Mc 2.27). Encontra-se também no Antigo Testamento o sistema dos anos sabáticos, que ocorriam a cada sete anos e culminaram a cada cinquenta com o Ano do Jubileu (Êx 23.10,11; Lv 25).

A instituição do sábado é essencial na vida de Israel; é um sinal da identidade de Israel como o povo do pacto de Deus (Êx 31.13; Ez 20.12).

O mandamento (Êx 20.8) se baseia no fato de que o próprio Deus descansou (literalmente “cessou”) de seu trabalho criativo no sétimo dia da criação (Gn 2.2); o princípio ainda se aplica, mesmo que o “dia” da criação não tenha sido literalmente um período de 24 horas.

Embora alguns entendam que o sábado se origine de uma prática babilônia, os babilônios tinham uma semana de cinco dias, e os “ sábados” deles não eram dias de cessação do trabalho.

A prescrição e exigência básicas do sábado (palavra no hebraico derivada do verbo sabat, “parar”, “descansar”) é de que é o dia a ser guardado como santo ao Senhor, mediante o repouso, a suspensão das atividades, especialmente o trabalho, em relação aos outros seis dias (Êx 20.8-11; 31.14-15; Is 58.13).

Uma das principais acusa­ções ao povo de Israel registradas nos livros do AT é a de que tem profanado o sábado por não deixar de fazer negócios como nos outros dias, comuns (Ne 13.15-18; Jr 17.19-23).

O descanso sabático judaico, no entanto, não constitui simplesmente um ócio, uma inatividade inútil, mas, sim, é orientado, na lei, para adoração a Deus. O sábado está determinado como “dia de reunião sagrada” ao povo judeu (Lv 23.3); mas são em maior número os sa­crifícios no sábado a serem feitos no tabernáculo (Nm 28.9,10).

De que modo Israel, como um todo, adorava no sábado, durante os tempos do AT, é difícil exatamente saber. Algumas indicações são encontradas no costume posterior de adoração semanal na sinagoga, que provavelmente se desenvolveu de prática mais antiga (Lc 4.16; At 15.21; 17.2). Apocalipse 1.10 é a única menção realmente explícita de Dia do Senhor nas Escrituras.

Os esforços para encontrar neste versículo uma referência ao Dia do Senhor escatológico (do juízo final) ou ao Domingo de Páscoa (um dia anual) não têm obtido resultados convincentes.

Mas não há dúvida de que o primeiro dia da semana está ali entendido. O adjetivo traduzido por “do Senhor” (grego, kyriakos) refere-se ao primeiro dia semanal, certamente porque o dia da ressurreição de Cristo foi, de certo modo, separado e assinalado somente para o Senhor, tal como exatamente significa a única outra ocorrência do mesmo adjetivo em 1 Coríntios 11.20, quando fala da comida eucarística instituída pelo Senhor para comemorar sua mor­te (11.20-26).

Sob essa luz, Atos 20.7 e 1 Coríntios 16.2 são mais bem lidos como alusão à prática regular da Igreja de se reunir para adoração coletiva no domingo.

Contudo, o Dia do Senhor seria o sábado cristão? Essa tem sido uma questão de debate constante na Igreja, especialmente desde a Re­forma. Os que respondem negativa­mente argumentam principalmente que:

  1. o sábado não fora instituído até o tempo do êxodo e, então, o foi somente para Israel;
  2. com Cristo, o sábado foi abolido, porque cons­tituía um sinal ou “sombra” anteci­pando a salvação\repouso, realiza­ da pela obra de Cristo (Mt 11.28; Cl 2.17).

De maior peso, contudo, são os principais argumentos de uma resposta afirmativa:

  1. que o sába­do é uma “ordenança da criação”, ou seja, tem por base o ato de Deus de abençoar, santificar e ele mesmo descansar no sétimo dia da criação (Gn 2.3; Êx 20.11; 31.17);
  2. que o mandamento do sábado, por ser incluído no Decálogo (Êx 20.8-22; Dt 5.12-15), é parte da permanente lei moral de Deus;
  3. que, como en­sina o escritor de Hebreus, o sinal do sábado aponta para a ordem de descanso escatológico, antecipada por Deus já na criação e assegura­da, em razão da queda, pela obra redentora de Cristo; mas que não será desfrutado pelo povo de Deus até o retorno de Cristo (Hb 4.3-4, 9-11; 9.28).

No primeiro dia da semana (um dia depois do sábado judaico), Jesus ressuscitou. Logo esse dia passou a ser o “ dia do Senhor” e os cristãos usaram como o “ sábado” deles. Portanto os primeiros cristãos se reuniam para cultuar (Ap 1.10; cf. At 20.7) neste dia.

Talvez Paulo presumisse isso em 1 Co 16.2, em que ordena que os cristãos separem suas ofertas nesse dia, embora não mencione especificamente nenhuma reunião. Antes da era cristã, o primeiro dia do mês na Ásia Menor e no Egito era chamado “dia do Imperador”, de modo que seria natural os cristãos adotarem a ideia e dar-lhe o nome de “dia do Senhor” para com em orar a ressurreição, que indica o senhorio de Jesus (Rm 1.4).

Por: Ricardo Moreira Braz do Nascimento

Bibliografia

R. T. Beckwith & W. Stott, This is the Day (London, 1978);
D. A. Car son (ed.), From Sabbath to Lord ’s Day (Grand Rapids, MI 1982);
J. Murray, Collected Writings, vol. 1 (Edinburgh, 1976), p. 205-228.
DAVIDSON, F. O Novo Comentário da Bíblia. Editora Vida Nova, 1997
WILLIAM, DEREK; [et al]. Dicionário Bíblico Vida Nova. São Paulo: Vida Nova, 2000.
DAVIS, John D. Novo dicionário da Bíblia J. Davis. Editora Hagnos 2005
______, Dicionário da Bíblia de Almeida – 2a Edição © 1999 Sociedade Bíblica do Brasil

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